segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Desinfetar mãos com álcool gel é pouco eficiente contra H1N1. Diferenças entre gripes e resfriados.




Lavar as mãos com álcool gel, uma medida preventiva muito popular durante a pandemia de gripe H1N1 em 2009, não aumenta a proteção contra o vírus, afirma estudo divulgado neste domingo em uma conferência médica nos Estados Unidos.

"Um desinfetante de mãos à base de álcool não reduz de forma significativa a frequência das infecções por rinovírus (responsáveis pelo resfriado, entre outros) ou o vírus da gripe", afirmam os autores do trabalho.

O estudo foi apresentado em Boston (nordeste), na conferência intercientífica sobre agentes antimicrobianos e quimioterapia (Interscience Conference on Antimicrobial Agents and Chemotherapy), que reúne em torno de 12.000 especialistas em doenças infecciosas até 15 de setembro.

O trabalho foi dirigido por Ronald Turner, da Universidade de Virgínia (leste) e financiada pela Dial Corporation, uma empresa de produtos de higiene e cuidado do lar, filial do grupo alemão Henkel.

"Os resultados deste estudo sugerem que a transmissão pelas mãos é talvez menos importante para a propagação do rinovírus do que se acreditava", afirmam os autores.

Os cientistas concluíram que 12 de cada 100 participantes do grupo que lavou regularmente as mãos com álcool gel foram contaminados com o vírus da gripe H1N1, enquanto que no grupo que não usou nenhum desinfetante, 15 de cada 100 contraíram a doença.



Da AFP PAris

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O que houve de importante do American Academy of Neurology 2010




O Encontro aconteceu de 10 a 17 de abril com mais de 10.000 neurologistas, neurocientistas e profissionais relacionados a esta área.

Entre várias apresentações estão: as novas diretrizes sobre quando os pacientes que sofrem com a Doença de Alzheimer devem parar de dirigir, um relato do FDA/CDC de acompanhamento da Síndrome de Guillain-Barré após vacinação para H1N1, e um Simpósio associado com a Sociedade Nacional de Esclerose Múltipla, atualizando neurologistas em trabalhos sobre a nova teoria vascular para a esclerose múltipla e insuficiência venosa cerebrospinal crônica.

Numa entrevista, Carlayne E. Jackson, professora de Neurologia e Otorrinolaringologia da Universidade do Texas em San Antonio e membro do Comitê Científico da AAN discutiu alguns dos mais novos conceitos do Encontro.

"Uma das mudanças que foram mais excitantes foi a evolução e o crescimento das nossas sessões integradas de Neurociência.

A ideia é prover a informação em tópicos mais focados para audiências menores, combinando apresentações sobre tópicos e novas pesquisas sobre o mesmo assunto.

Outra inovação este ano foram as sessões plenárias com prêmios, segundo ela.

A terceira modificação foi uma nova sessão plenária de ensaios clínicos. “Nós entendemos que há um aumento grande de trabalhos clínicos a serem apresentados nos encontros da Academia.

É por isso que nestes anos houve uma sessão de trabalhos clínicos para a discussão de estudos clínicos randomizados, fase 3, que fossem do interesse de todos os membros.

Sob a sessão conhecida como Hot Topics, segundo a Dra. Jackson, planejou-se discutir as diretrizes e resultados do estudo CREST que randomizou trabalhos de endarterectomia de carótida e colocação de stent nesta artéria.

"Um dos apresentadores falou sobre vários artefatos utilizados no tratamento da epilepsia e de todo o conceito de sequenciamento do exon, onde você pode ver o perfil genético e dizer quais doenças você estará mais suscetível a adquirir.“

Na sessão matinal da houve médicos falando sobre toxina botulínica para tratamento da cefaleia crônica baseado em resultados de um grande ensaio clínico (PREEMPT).

Casos estudados foram incluídos, entre eles palestras sobre lesão craniana e atrofia muscular espinal, como também o papel do neurologista na saúde pública.

O programa inclui alguns dos temas de maior importância científica. Entre eles, estão os seguintes:

"Síndrome de Guillain-Barré após vacinação por H1N1 nos Estados Unidos: Um relato do Sistema de Relato de Eventos Adversos de Vacina do CDC/FDA (2009)" (P01.296);

"Risco funcional relacionado à idade: Sexto ano de seguimento do LADIS (Leukoaraiose e impedimentos na velhice) Estudo de Cooorte" (P02.294);

"Imunoglobulina intravenosa diminui taxas de aumento ventricular e de declínio cognitivo da doença de Alzheimer;
e
"Recomendações do IOM Trabalho Piloto em Neurologia" (P01.296).

American Academy of Neurology (AAN) 62nd Annual Meeting, April 10-17, Toronto, Ontario, Canada.

Mulheres obesas têm risco maior para o diagnóstico de tumores de mama maiores e em estágios mais avançados

Um estudo divulgado aqui no 11º Encontro Anual da American Society of Breast Surgeons, em Las Vegas, revelou que as mulheres obesas não apenas têm um risco maior de desenvolver câncer de mama – como já se suspeitava – mas também estão mais propensas a ter neoplasias que são detectadas em uma fase tardia, além de apresentar massas tumorais maiores no momento do diagnóstico.

O estudo, de autoria principal da Dra. Danielle Haakinson, Residente de Cirurgia na Mayo Clinic de Phoenix, no Arizona, dividiu 1.352 pacientes em dois grupos: obesas (n = 327) e não obesas (n = 1.026).

A Dra. Haakinson destacou no resumo do seu trabalho que não houve diferença na média de idade entre os grupos, e poucas pacientes obesas apresentavam câncer de mama quando mais jovens.

Além disso, como ela explicou em sua apresentação, a maioria das mulheres obesas que foram diagnosticadas com câncer descobriu seu tumor através da mamografia, ao invés da palpação (67% versus 56%, P = 0,0006).

Em grande parte, isto foi o resultado da baixa parcela de pacientes que detectou seus nódulos durante o autoexame; a detecção através do exame clínico foi de 5% para as pacientes obesas e de 6% para as não obesas (P = 0,0066).

A Dra. Haakinson observou em sua apresentação que as mulheres obesas apresentavam tumores maiores no momento do diagnóstico, uma informação que também é preocupante.

No grupo de obesas, 71% apresentavam tumores menores que 2 cm, enquanto que no grupo de não obesas, 79% das participantes tinham tumores com este mesmo tamanho.

Além disso, as pacientes obesas tinham uma maior probabilidade de desenvolver metástases de linfonodos (31% versus 25% , P = 0,026).

A equipe de pesquisadores escreveu em seu resumo que os grupos não apresentaram diferenças com relação à terapia adjuvante, à recorrência, a história familiar ou aos marcadores tumorais, mas de acordo com a análise multivariada, as pacientes obesas tenderam a apresentar uma taxa de sobrevida global pior, com hazard ratio de 1,53 (intervalo de confiança de 95%, 0,97 - 2,53).

A Dra. Deanna Atai, Diretora do Center for Breast Care, Inc, membro do American Board of Surgery e chefe do Comitê de Comunicação da American Society of Breast Surgeons disse ao Medscape Ob/Gyn & Women's Health: "este é mais um exemplo do quanto que a obesidade é um problema de saúde pública.

Sabemos que estas pacientes têm um maior risco de acidente vascular cerebral, de diabetes e de doenças cardíacas; agora, vemos que elas também apresentam um risco aumentado para o câncer de mama."

Os pesquisadores acreditam, com base em sua análise, que as mulheres obesas têm menos chance de manter os cuidados gerais de saúde "inclusive para realizar os check-ups anuais de rotina", comentou a Dra. Barbara Pockaj, que também pertence a Mayo Clinic e fez parte da equipe de pesquisadores.

Ela disse ao Medscape Ob / Gyn & Women's Health que a não realização de uma mamografia anual está incluída nestas faltas de cuidado com a saúde. Como é mais difícil palpar o tumor no seio de uma mulher obesa, há mais tempo para que o tumor cresça antes de ser detectado.

Em nota à imprensa, a Dra. Haakinson comentou que a problemática com relação aos cuidados básicos de saúde pode ser explicada "simplesmente pelo de as mulheres obesas possuírem menos chance de examinar seus seios, possivelmente porque se sentem desconfortáveis com sua imagem corporal".

Ela disse ainda ao Medscape Ob / Gyn & Women's Health que "independentemente das razões que fazem com que estas mulheres não se cuidem, os médicos precisam compreender que as mulheres estão negligenciando os cuidados básicos de saúde e devem incentivá-las a realizar estes cuidados.

Existe um risco maior entre estas pessoas de serem diagnosticadas com tumores já em estágio avançado. Ao fazer suas mamografias e check-up anuais elas podem tomar as rédeas da proteção de sua própria saúde".

A Dra. Pockaj acrescentou ainda que o fato das mulheres obesas apresentarem tumores maiores foi "um pouco surpreendente, pois deveria haver uma maior conscientização já que estas pacientes apresentam um risco maior".

A equipe concordou que a instalação de cuidados básicos de saúde mais intensivos pode afetar positivamente a mortalidade das mulheres obesas por câncer de mama.

Fonte:
American Society of Breast Surgeons 11th Annual Meeting: "Press Briefing from the Front Lines; Obese Patients Present with More Advanced Cancers: The Impact of Obesity on Breast Cancer." Presented April 30, 2010.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pesquisa britânica descobre forma mais rápida de estudar células cancerígenas

Cientistas britânicos desenvolveram um método mais rápido para estudar as chamadas células estaminais cancerígenas, celulas que estão directamente envolvidas no cancro. Esta descoberta que pode ter um papel crucial no desenvolvimento de medicamentos e acelarar a produção para o combate ao cancro.

Investigadores da Universidade de Oxford desenvolveram um método de obter amostras de células estaminais cancerígenas (a partir de linhagens de cancro intestinal) que permite mantê-las em laboratório, submetendo-as a testes repetidos para descoberta de novos medicamentos, este processo permite examinar repetidas vezes o efeito de potenciais fármacos.

“Trabalhar desta maneira permite um estudo muito mais eficaz do que a recolha repetida de amostras humanas ou do que a investigação em cobaias animais”, explica Walter Bodmer, um dos autores do estudo.

“Podemos avaliar melhor medicamentos contra o cancro e perceber se eles atacam as células estaminais cancerígenas. Se não as estiver a atacar, o cancro volta a desenvolver-se”, afirma.

Estas células estaminais são resistentes aos tratamentos convencionais como a quimioterapia ou a radioterapia e são a principal razão para a reincidência (recidiva) dos tumores.

Até agora, dizem os investigadores, a identificação de células estaminais cancerígenas obrigava a novas biopsias nos doentes. Os cientistas tinham, depois, de aumentar a presença dessas células nas amostras e esperar se, aplicadas em ratos, resultavam em novos tumores.

O processo é demorado e as amostras não podem ser usadas em novas experiências, mas esta nova técnica permite um trabalho de investigação muito mais rápido e produtivo, quer no estudo das células e do seu papel nos tumores, quer na aplicação de medicamentos novos.

Os dados foram publicados na revista “Proceedings of the National Academy of Science”.

Sete passos para um coração saudável: publicação da American Heart Association

Esta publicação American Heart Association diz que a saúde cardiovascular ideal é definida em um adulto por cada uma das medidas abaixo:

1. Nunca ter fumado ou ter deixado de fumar há mais de um ano.

2. Índice de Massa Corporal (IMC) abaixo de 25 kg/m² (o IMC é calculado dividindo o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros).

3. Ser fisicamente ativo. As novas recomendações são para a prática de 150 minutos por semana de atividades físicas de intensidade moderada ou 75 minutos por semana de atividade física de intensidade vigorosa para uma saúde ideal.

4. Pressão arterial abaixo de 120 x 80 mmHg.

5. Glicemia de jejum abaixo de 100mg/dl.

6. Colesterol total abaixo de 200mg/dl.

7. Dieta saudável. Quatro ou cinco componentes chave da dieta. Para uma dieta de 2000 calorias ao dia, por exemplo, incluir:

Pelo menos 4 copos e meio de frutas e vegetais por dia.
Pelo menos duas porções de 100 gramas de peixe por semana, preferencialmente peixes como salmão, arenque, cavala, sardinha e truta.
Pelo menos uma porção de 30 gramas de grãos integrais ricos em fibras por dia.
Limitar a ingestão de sódio (sal) a 1500mg por dia.
Não beber mais do que um litro por semana de bebidas com adição de açúcar.
A American Heart Association espera que estes sete fatores possam melhorar a saúde cardiovascular dos americanos em 20% até o ano de 2020 e também reduzir as mortes por doenças cardiovasculares e acidentes vasculares cerebrais em 20%.

Fonte: Circulation - American Heart Association

FDA: possibilidade de risco aumentado de fraturas ósseas com o uso de certos antiácidos como os bloqueadores de bomba de prótons

Segundo divulgação do Food and Drug Administration (FDA), há um risco aumentado de sofrer fraturas ósseas no quadril, punho e coluna se você está em uso de alguns medicamentos antiácidos indicados no tratamento de refluxo gastroesofágico, azia, esofagite ou úlceras gástrica e duodenal.

Estas medicações pertencem à classe dos bloqueadores da bomba de prótons e têm a função de reduzir a secreção ácida do estômago. Eles estão disponíveis para venda com e sem prescrição médica.

Estão incluídos nesta classe de medicamentos: omeprazol, lansoprazol, esomeprazol, pantoprazol e rabeprazol.

O investimento nos genes

Por Silvia Ribeiro

A busca de variações genéticas já havia sido iniciada ainda antes de ser completado o mapa do genoma humano. Para esses exploradores modernos, o mais atrativo são os grupos populacionais mais isolados por razões geográficas, culturais ou políticas, devido a sua relativa homogeneidade genética. O México, por sua diversidade étnica, é um dos países mais cobiçados pelas grandes trasnacionais farmacêuticas, que empregam as novas tecnologias para produzir medicamentos "a la carte". São as mesmas empresas que estão atrás do Instituto Nacional de Medicina Genômica, cuja criação foi anunciada recentemente pelo presidente Vicente Fox e que receberá fundos públicos.


Sem sombra de dúvida, a genômica, o estudo dos genomas e suas variações, é uma ciência altamente promissora. Mas não do ponto de vista da prevenção e da previsão de doenças como declaram seus promotores, senão como o grande salto qualitativo para acumular lucros na voraz indústria farmacêutica transnacional, e no negócio da assistência médica privada.

A indústria farmacêutica é a que recebe maior porcentagem de lucros de todas as indústrias do planeta. As dez maiores empresas do planeta dominaram mais de 53 % do mercado mundial e suas margens de lucro giram em torno de 30 % ao ano, embora a Pfizer e a Merck tenham alcançado percentuais de mais de 46 % de lucros no ano de 2002. Esse é um porcentual de retorno muito maior que o das indústrias petrolíferas ou informáticas, e é mais de quinze vezes maior que o percentual de lucro recebido pela maior empresa transnacional do mundo — a Wal Mart.
As indústrias farmacêuticas alegam que precisam desse capital em virtude dos altos custos e do amplo período de investigação para produzir novos medicamentos. Entretanto, um estudo mais extenso realizado sobre a produção de fármacos mostra uma realidade muito diferente. A Oficina de Avaliação Tecnológica dos Estados Unidos realizou em 1993 um estudo dos medicamentos de receita que haviam sido produzidos em um período de sete anos. Nesse período, de 348 fármacos lançados no mercado por 25 empresas líderes no país, 97% eram cópias de medicamentos já existentes, reformulados para prolongar a validade de suas patentes. Apenas 3 % ficavam para avanços terapêuticos legítimos. Desses, 70% eram resultado de pesquisa pública. Mais da metade dos medicamentos realmente novos distribuídos pelas empresas privadas foi retirada posteriormente do mercado, por efeitos secundários não previstos ii . Segundo o Informe para o Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, de 1975 a 1996 foram lançados no mercado 1223 novos fármacos, mas somente 12, ou menos de 0,10 %, visavam atender doenças tropicais que afetam os mais pobres.iii

O maior investimento das empresas farmacêuticas é no aumento de seus lucros, longe dos objetivos altruístas relativos à saúde, e muito menos à saúde daqueles que não podem pagar por ela. Ademais, elas pretendem, com diferentes estratégias, como a ampliação da validade temporal e geográfica de suas patentes, eliminar dos mercados qualquer outra opção que não sejam os fármacos produzidos por elas.

Todavia, o negócio mais rentável dessa indústria não é produzir medicamentos, mas o uso das mesmas drogas para serem vendidas a pessoas saudáveis, que é um mercado muitíssimo maior. A lógica comercial é muito simples, os doentes são curados ou morrem, mas deixam de comprar seus produtos. Por outro lado o conceito de “saudável” sempre pode ser manipulado, sobretudo a partir do conceito de “melhora do desempenho humano”. Nesse contexto, nada é normal e saudável, todos podemos ser sempre melhorados.

Como as agências que regulam o uso de fármacos se orientam ao contexto médico e não mostram grande interesse em aprovar fármacos para “melhorar o desempenho humano”, tal como aumentar a memória, a inteligência, melhorar o sono, aumentar a resistência física ou mudar a aparência, para obter a aprovação dessas drogas as empresas as apresentam, por exemplo, como fármacos para a doença de Alzheimer, diabetes, distrofia muscular, senilidade, demência, narcolepsia etc. Na realidade, as vendas das mesmas sustâncias são muito maiores (dez, vinte, cinqüenta vezes mais) como drogas para redução de peso, drogas “inteligentes” para a memória, para ficar acordado, para a agilidade mental e outras, além do enorme mercado legal e ilegal, por exemplo, de drogas relacionadas a esportes.

A genômica aparece então como a nova mina de ouro para a indústria farmacêutica e outras relacionadas, graças ao enorme potencial de aumentar o consumo em todos esses mercados, criando uma demanda interminável de “melhor desempenho” e a ilusão dos fármacos e drogas feitos sob medida. Abre-se o horizonte para desenvolver um novo conceito de drogas para terapias gênicas (intervindo nos genes em nível molecular) ou para saber por antecipação se determinadas variações genéticas podem indicar resistência a certos medicamentos e adaptá-los segundo essa informação (farmacogenômica).

Essa prática leva necessariamente à “medicina personalizada”, porque mesmo que a informação genética seja basicamente compartilhada, cada indivíduo tem pequenas variações chamadas SNP (poliformismos singulares de nucleotídeo, da sigla em inglês), pelo que seria necessário dispor da informação genética de cada indivíduo. Somente o negócio do diagnóstico renderá enormes lucros. Já existem várias empresas especializadas no desenvolvimento dessas tecnologias, todas patenteadas.

São justamente essas variações ou SNP as que constituem “as jóias da coroa” da genômica, porque são as que iluminam a relação entre determinados genes (e suas variações) com doenças — ou com a resistência a elas — e outras funções dos genes em relação ao organismo em geral.

Por isso, a caça a variações genéticas já havia sido iniciada antes de ser completado o mapa do genoma humano, antevendo o tremendo valor comercial que teriam. Para os caçadores de genes, o mais atrativo são os grupos populacionais que estão isolados por razões geográficas, culturais ou políticas, devido a sua relativa homogeneidade genética. Dessa forma, é mais fácil identificar os genes relacionados a uma doença que se transmite em uma família ou em uma comunidade.

Em função disso, em uma negociação controversa no início de 1999, o governo da Islândia, vendeu a herança genética de toda sua população à empresa de genômica da CODE Genetics, que logo a vendeu para a Hoffman LaRoche, por 200 milhões de dólares. Entre vários outros exemplos, o governo de um pequeno estado báltico da Estônia, colocou à venda os genes de seus cidadãos, com um investimento inicial de 200 milhões de dólares, sem qualquer discussão pública. O governo de Tonga vendeu os direitos de toda a combinação genética de sua população a uma empresa biotecnológica australiana, sem o consentimento do povo de Tonga. A mesma empresa reclama também acordos para o acesso às informações das ilhas Maurício, Nauru e Tasmânia. Por sua vez, várias das maiores transnacionais farmacêuticas formaram um consórcio para a busca dessas variações, chamado SNP Consortium e que está atrás de vários projetos “públicos” de pesquisa, dos quais elas obtêm informações. Porém, o maior valor comercial não está nas próprias seqüências e sim na sua interpretação e nas aplicações obtidas a partir dessa informação. Por isso, as empresas que no início quiseram patentar maciçamente os genes humanos e o SNP finalmente entraram em acordo, em virtude da pressão do debate público, de que a informação seria pública, acessível pela internet. A Celera Genomics, empresa líder no setor, fundada por Craig Venter, magnata da genômica, não teve dificuldade para explicar publicamente que isso de fato não tem importância, porque sem as ferramentas e a tecnologia adequada, essa informação não poderia ser utilizada. E é essa parte que está sob forte controle de patentes monopólicas de algumas poucas empresas, estreitamente ligadas às farmacêuticas.

Desde muito cedo, o México, por sua diversidade étnica, é um dos países indicados e cobiçados para esse tipo de caçada, e vários dos grupos indígenas desse país foram selecionados como “grupos de interesse” para o seqüenciamiento de suas populações, tanto pelo Projeto Diversidade Genética Humana, que se desenvolveu paralelamente ao Projeto Genoma Humano, como pelo projeto HapMap, ambos iniciativas governamentais internacionais lideradas pelos Estados Unidos. No caso do HapMap, com participação direta de transnacionais farmacêuticas – como o SNP Consortium.

No México, não apenas não houve qualquer discussão pública sobre as múltiplas implicações desse seqüenciamento ou dessas formas de medicina “individualizada” e (teoricamente) “previsora”, mas se apresentou essa prática como um benefício para a população, de tal forma que se deve inclusive pagar por ela com fundos públicos, financiando por exemplo, o Instituto de Medicina Genómica (Inmegen).

Esse instituto, que explicitamente se propõe a fazer o mapa de variações genéticas da população mexicana, está ligado às transnacionais farmacêuticas em seus objetivos explícitos, e estruturalmente por meio da Funsalud (Fundación Mexicana para la Salud, privada), da qual participam entre outros sócios institucionais a Bayer, SmithKlineBeecham, Glaxo Wellcome, Wyeth y Merck (MDS), junto a hospitais privados do Grupo Angeles e muitos outros representantes de grandes capitais mexicanos e transnacionais. Segundo o analista Gustavo Leal, a Funsalud é o organismo privado que mais influenciou a definição de políticas de saúde no México, para forçá-las a adequar-se às “expectativas do mercado”.iv Não é estranho então que o Instituto de Medicina Genômica tenha sido promovido desde sua origem, por esse grupo, nem que esse Instituto tampouco vá oferecer assistência ao público (tradição de serviço dos nove primeiros institutos), já que na realidade, o “público” para o Inmegen é antes de tudo um insumo necessário para poder levar a cabo suas incumbências de pesquisas e industriais, que nada têm a ver com as necessidades reais de saúde da grande maioria da população mexicana – nem nenhuma outra maioria no mundo, senão quiçá, com os ricos que possam pagar pela medicina elitista “e de mercado” que promove.

Em um folheto da Funsalud, intitulado “Oportunidades para la industria farmacéutica en el Instituto de Medicina Genómica de México”, traduzido para o inglês com colaboração da Novartis, afirma-se que o México e seus 60 grupos étnicos “prognosticam a formação de uma sólida plataforma para o desenvolvimento da farmacogenômica no México”. Significativamente, o folheto se encontra disponível no sítio da Funsalud na Internet somente em inglês, o que indica claramente para quem é oferecido o genoma dos 60 grupos étnicos do México.

Dessa perspectiva, as “generosas” doações de empresas farmacêuticas são na realidade um investimento substancial. Segundo um documento da Funsalud referido ao Inmegen, “de 1999 (…) a julho deste ano, foram recebidos donativos no valor de $ 172’431.138.80 pesos e 85,000 dólares; a rentabilidade é assombrosa visto que a Funsalud, por cada peso trazido para os Associados da Fundação para o desenvolvimento do Inmegen, recebe 37.2 de donativos de outras instituições, principalmente a Secretaria de Saúde”.v

Nada mal, pensando que em todo o resto do mundo as empresas comerciais que se dedicaram a esse ramo roubaram ou tiveram que pagar pela informação, mas no México, as próprias empresas são aquelas que subsidiam com sua informação e dinheiro público às multinacionais.

As autoridades do Inmegen afirmam o contrário, que as investigações reduzirão os gastos públicos em saúde e beneficiarão os mais pobres. Que outra coisa poderiam dizer para tornar digerível o subsídio público em dinheiro e recursos humanos nacionais às transnacionais? Segundo Gerardo Jiménez Sánchez, diretor do Consórcio Promotor do Inmegen, “em uns 30 anos, o México poderia estar em condições de reduzir até 30% do gasto na assistência ao diabetes, que absorve seis % do orçamento anual de saúde de 600 milhões de dólares”.vi Hipoteticamente, em trinta anos se poderiam economizar 10 milhões de dólares anuais. Com base nas cifras entregues ao públicovii, segundo as quais são necessários cerca de 132 milhões de dólares nos dois primeiros anos do INMEGEN, com um custo de aproximadamente 60 milhões de dólares anuais em 30 anos, seriam 1800 milhões. Isso quer dizer que, em uns 180 anos se recuperaria o investimento e talvez então (se as transnacionais farmacêuticas o permitirem) terão vencido as patentes dessas novas tecnologias.

Inconscientes dessas enormes possibilidades de economia das quais serão os ingredientes fundamentais, mais de 60 % da população mexicana — que entregaria seus genes para a pesquisa — utilizam para sua saúde ervas medicinais e práticas de saúde tradicionais que nem sequer estão contabilizadas no orçamento anual da Secretaria de Saúde. Certamente, alguns desses conhecimentos tradicionais mostraram-se tão efetivos para tratar o diabetes que foram pirateados por pesquisadores da Universidade de Bonn.

Quem se beneficiará então das atividades do Instituto de Medicina Genômica?

O Inmegen declara que a informação genética obtida não será patentada (não esclarece como e quem vai controlá-la), mas por meio do que chama de “vinculação horizontal”, afirma que “a natureza multidisciplinar do Instituto permitirá o desenvolvimento de freqüentes e variadas colaborações com outras instituições acadêmicas e do setor produtivo no México e no exterior. As primeiras terão uma maior enfoque no desenvolvimento de projetos de pesquisa científica e as segundas no desenvolvimento de produtos e serviços, para sua validação e comercialização”.

Traduzindo: O México entra com os genes, a infra-estrutura, os cientistas formados em instituições públicas e com remunerações muito menores que seus colegas no exterior, a pesquisa até onde lhe permitam as tecnologias patenteadas das multinacionais para cumprir seus objetivos; e as empresas farmacêuticas, sobretudo transnacionais, processam e lucram com esses medicamentos, vendendo-os cada vez mais a quem possa pagar. Definitivamente, um projeto com futuro… para aumentar os lucros dessas grandes empresas.

Silvia Ribeiro é pesquisadora do Grupo ETC, Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração, www.etcgroup.org.

Este artigo foi publicado originalmente em La Jornada, em 30 de agosto de 2004. Tradução: Flávia Gouveia

i Retirado de “Oligopolios S.A – Concentración del poder corporativo, 2003”, http://www.etcgroup.org/article.asp?newsid=441

ii A citação das fontes originais, assim como outros dados e idéias expressados neste artigo, foram retirados da pesquisa coletiva do Grupo ETC, www.etcgroup.org, em particular do documento“La nueva agenda genómica”, ETC Communiqué, Nro. 72, Sept-Oct. 2001, http://www.etcgroup.org/article.asp?newsid=299

iii PNUD, Informe do Desenvolvimento Humano 2001, Oxford University Press, Nueva York/Oxford, 2001.

iv Leal F, Gustavo. “Evidencia para las políticas”, Temas de Salud y Sociedad 1, Imagen Médica, México, 2003

v “La Fundación Mexicana para la Salud y la medicina genómica”, www.funsalud.org.mx/Sites/funsalud-site/ htdocs-funsalud/inmegen/FUNSALUD-Genomica.pdf

vi Franco, Pilar y Osava, Mario, “México y Brasil no quieren perder el tren genómico”, en Tierramérica,julio 2003, http://www.tierramerica.org/2003/0519/articulo.shtml

vii “Requiere el Inmegen al menos 132 millones de dólares para operar”, Notimex, 19/7/2004

Testes usam ultrassom como contraceptivo masculino

Aplicação de ultrassom em homens pode ser usada como um anticoncepcional masculino válido por seis meses, segundo testes preliminares da universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.



A equipe de pesquisadores obteve um financiamento de US$ 100 mil (quase R$ 180 mil) da Fundação Bill & Melinda Gates e busca a aprovação para realizar mais testes clínicos.

O coordenador do estudo, James Tsuruta, disse acreditar que o novo método possa se transformar em uma opção de contracepção segura e barata.

"O nosso objetivo de longo prazo é usar o ultrassom de instrumentos terapêuticos que normalmente são utilizados na medicina esportiva ou em clínicas de fisioterapia como contraceptivos masculinos baratos, de longo prazo e reversíveis, adequados para uso em países em desenvolvimento e do Primeiro Mundo."

Os testes preliminares indicam que após as aplicações de ultrassom nos testículos, a produção de esperma é interrompida e as reservas já existentes são exauridas, deixando o homem temporariamente infértil.



Efeito e segurança máximos??

O financiamento da pesquisa prevê o aprimoramento da técnica para atingir efeitos e segurança máximos.

Há poucas semanas, pesquisadores na China divulgaram ter desenvolvido um outro tratamento anticoncepcional para homens que é eficaz, reversível e sem efeitos colaterais sérios a curto prazo.

Os cientistas realizaram testes com mais de mil homens com idades entre 20 e 45 anos e que tiveram pelo menos um filho nos dois anos anteriores ao experimento.
Suas parceiras tinham idades entre 18 e 38 anos, sem problemas reprodutivos.

No tratamento, os homens receberam por dois anos e meio uma injeção de um líquido contendo o hormônio testosterona que provocou a suspensão temporária da produção de espermatozoides.

Durante os testes, apenas um em cada cem voluntários engravidou a parceira. Seis meses após a interrupção do tratamento, o número de espermatozoides dos participantes voltou ao nível normal.

Apesar de a injeção não ter provocado efeitos colaterais, quase um terço dos participantes abandonou o experimento.

A saída dos voluntários não foi explicada.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Pode-se ensinar truques novos à um cachorro velho, sim. O que é neuroplasticidade?

O que é neuroplasticidade?

O conceito de plasticidade neural diz respeito ao fato de que a estrutura do sistema nervoso central não é fixa ou impermeável à influência do ambiente e dos padrões de atividade funcional. A estrutura do sistema nervoso é, ao menos em parte, influenciada pelos padrões de atividade no sistema. O conceito de que os padrões de atividade influenciam a estrutura do sistema nervoso é resumido sob a forma da expressão “plasticidade dependente de atividade”.

(*) O texto é um extrato do post de mesmo nome publicado no blog do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento da UFMG.
Lesões e plasticidade neural (*)

O estrago causado no cérebro por um AVC pode provocar perda de sua função, mas através de um fenômeno denominado “neuroplasticidade”, o cérebro pode se reajustar funcionalmente, havendo uma reorganização dos mapas corticais que contribui para a recuperação do AVC.

As mudanças descritas na organização do córtex incluem o aumento dos dendritos, das sinapses e de fatores neurotróficos essenciais para a sobrevivência de células nervosas. Após ocorrer uma lesão, em algum lugar do córtex motor, mudanças de ativação em outra regiões motoras são observadas. Essas mudanças podem ocorrer em regiões homólogas do hemisfério não afetado, que assumem as funções perdidas, ou no córtex intacto adjacente a lesão. Graças a essas reorganizações corticais, que podem ter início de um a dois dias após o AVC e podem se prolongar por meses, os pacientes podem recuperar, pelo menos em parte, as habilidades que haviam sido perdidas.

A recuperação da função nos membros ,promovida pela plasticidade, é dificultada por um fenômeno conhecido como “não-uso aprendido”. Com a perda da função de uma área do cérebro atingida pelo AVC, a região do corpo que estava ligada a essa área também é afetada, perdendo a sua capacidade de movimentação. Como o paciente não consegue mover o membro mais afetado, compensa usando o outro, deste modo, após um certo tempo, quando os efeitos da lesão não estão mais presentes e ocorreram readaptações no cérebro, os movimentos poderiam ser recuperados, no entanto, o paciente já “aprendeu” que aquele membro não é mais funcional.

(*) O texto acima é um extrato do artigo “AVC e Neuroplasticidade” de autoria de Mirella Brito e Nicodemos Teles de Pontes Filho

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