quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A religiosidade e suas interfaces com a medicina, a psicologia e a educação - Religiosity and its interfaces with medicine, psychology, and education

Resumo
A dissociação metodológico-ideológica, que durante séculos separou a ciência da religião, sofreu um considerável golpe em sua tenacidade, com uma visível tendência a atenuar-se nesse final de século. Igreja e ciência, de parte a parte, dedicam-se a uma decidida aproximação. A medicina, em primeiro termo, seguida pela psicologia e mais recentemente pela educação são ciências que se dedicaram a fazer interfaces e a buscar tentativas intertransdisciplinares, com a religiosidade em variadas formas de expressão. As conseqüências sobre a saúde, seja de caráter terapêutico ou no sentido preventivo, têm mostrado uma correlação entre a presença da religiosidade e uma variada gama de situações clínicas, como a menor propensão à delinqüência, ao abuso de substâncias, às separações matrimoniais e às condutas suicidas. No entanto, estudos que correlacionam a religiosidade e os achados neurocientíficos têm, consistentemente, demonstrado a associação entre modificações neuroelétricas e neuroquímicas, além da atividade religiosa. De modo análogo, mas de forma ainda incipiente, a influência da religiosidade sobre os processos educacionais é apontada em diferentes estudos. A conclusão sobre essa visão interdisciplinar, entretanto, aponta ainda a existência de resultados díspares – indicativos da necessidade de aprofundar os estudos – para melhorar a qualidade das evidências.

Descritores

Religiosidade. Interdisciplina. Medicina. Psicologia. Educação.

Medicina e religiosidade

A área da saúde é uma das que, mais precoce e profundamente, tem investigado o tema medicina versus religiosidade.

O setor médico, em especial, dedica, há algumas décadas, sobretudo a dos anos 90, uma grande atenção ao tema. Quem não ficaria estarrecido até bem pouco, seja médico ou religioso, diante de afirmativas como:

1. estados de meditação profunda, de experiências místicas intensas ou de imersão religiosa associam-se às alterações eletroencefalográficas;

2. técnicas de imagens cerebrais, tipo Spect (single photon emission computed tomography) ou Pet (positron emission tomography), ou ressonância magnética mostram aumento de atividade em algumas áreas cerebrais e diminuição em outras áreas durante os estados mentais-corporais antes referidos;

3. experiências místicas e meditativas são processos, provavelmente, mensuráveis e quantificáveis;

4. o bem-estar espiritual é uma das dimensões de avaliação do estado de saúde, junto às dimensões corporais, psíquicas e sociais;

5. médicos defendem que a reza intercessória (por outrem) pode ser um fator coadjuvante no tratamento de pacientes cardíacos.

Qualquer dessas afirmativas soaria, há duas ou três décadas, como algo completamente estranho e ilegítimo, tanto ao pensamento religioso quanto ao científico. Ciência e religião eram campos historicamente opostos, pelo menos, na cultura do ocidente. O apego da cultura ocidental por um pensamento linear (causalista e simplificador) e seu encantamento pelos avanços tecnológicos e sua crença numa filosofia empirista – em síntese, a adição ocidental ao positivismo estrito – configuram um conjunto de condições que, provavelmente, proporcionaram o isolamento e estimularam os conflitos entre religiosidade e pensamento científico.

Hoje, afirmar que a religiosidade de uma pessoa afeta seu corpo, sua mente, sua interação com os outros, além de seu espírito soa menos estranho, embora ainda seja, em muitos círculos, motivo para desconfiança e inquietação.

Atualmente, os estudos sobre os efeitos da religiosidade já se mostram sustentados por algumas evidências, inclusive empíricas. Estudos com Pet, em sujeitos capazes de meditação profunda praticando ioga, mostraram um aumento do metabolismo da glicose cerebral, quando se avaliou a relação dessa atividade metabólica entre as zonas frontal e occipital.4 Na mesma direção, estudos de Newberg et al5 evidenciaram aumento significativo da atividade cerebral, na região do córtex pré-frontal, durante a meditação, o que é consistente com o processo de atenção focalizada.O exame mais detalhado das relações entre religiosidade e condições físicas, psíquicas e sociais do indivíduo só pôde ocorrer depois que a cultura conseguiu desatrelar-se do pensamento positivista estrito, dominante até o século XX. Nas últimas décadas, o processo de emergência de um novo paradigma, fato que está ainda a ocorrer,6 é que deu sustentação para que, em lugar de distanciamento e desconfiança, surgisse proximidade e interesse recíproco a religiosos e cientistas.

Maass,7 por exemplo, investiga a tese de que orações podem ajudar a curar doentes. Preces intercessoras dirigidas, antes das intervenções de médicos, a pacientes que se submeteriam a angioplastias trazem resultados positivos, formando, assim, um elo entre espiritualidade e saúde.

Ainda que revistas científicas de impacto elevado, como Lancet, New England Journal of Medicine, Archives of Internal Medicine, JAMA, ampliem gradativamente seus espaços a temas religiosos, atualmente é prematuro e “inapropriado” ligar atividades religiosas a resultados médicos devido à carência de evidências sólidas e aos substanciais assuntos éticos ainda não examinados”.8 Assim, ao considerarem a complexidade e o tempo médico que seriam requeridos para poder tratar desses assuntos em profundidade com os pacientes, vários autores8,9 mostram-se reticentes em prescrever, diretamente, um envolvimento médico amplo sobre temas religiosos durante as consultas. Mas, não apenas a área médica mostra-se investindo nesse assunto.

Fonte: http://www.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/especial07.htm

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